“Pacientes em coma podem estar mais despertos do que parecem. E a ciência talvez tenha encontrado a ponte para falar com eles: o cinema.”

A imagem cerebral permitiu que um homem que era antes considerado inconsciente respondesse uma série de perguntas de sim ou não. O estudo, publicado esta semana no New England Journal of Medicine, desafia a definição clínica de consciência e fornece uma oportunidade sem precedentes para se comunicar com aqueles que não mostram sinais externos de estarem conscientes.

Pacientes são classificados como inconscientes, ou em ‘estado vegetativo’, se não são capazes de responder a nenhuma modalidade de uma série extensa de perguntas e chamados.

Mas se o paciente está completamente incapacitado de se mover, uma mente consciente e comunicativa poderia estar fora de alcance para esse tipo de teste. “O problema com o estado vegetativo é que ele é um diagnóstico baseado em ausência de evidência”, diz o neurocientista Adrian Owen, da Unidade de Cognição e Ciências do Cérebro do Conselho de Pesquisa Médica em Cambridge, Reino Unido.

Owen e seus colegas foram parar nas manchetes três anos atrás quando usaram uma técnica de escaneamento cerebral chamada ressonância magnética funcional (fMRI) para demonstrar que uma mulher em estado vegetativo podia responder a comandos verbais.

Quando os pesquisadores pediram que ela imaginasse que estava jogando tênis ou andando pela casa, o escaneamento do fMRI revelou que ela ativava as mesmas áreas do cérebro que pessoas saudáveis que faziam o mesmo.

A descoberta suscitou um debate sobre a mulher estar ou não consciente. Alguns argumentaram que o que Owen e seus colegas viram não era mais que uma ativação automática daquelas regiões cerebrais quando algumas palavras são ouvidas.

Um desses críticos foi Lionel Naccache, um neurocientista do hospital Pitié-Salpêtrière em Paris, que pediu cautela antes de conclusões sobre a mulher estar mesmo consciente.Esta última evidência de comunicação com um paciente vegetativo, entretanto, convenceu Naccache. “É evidência inegável de consciência”, disse ele.

Quebrando o nevoeiro

Owen e seus colaboradores repetiram os experimentos com fMRI em 54 pacientes que haviam sido classificados anteriormente como vegetativos ou ‘minimamente conscientes’ (uma condição na qual o paciente pode responder inconsistentemente a comandos, mas não pode se comunicar interativamente).

Os cientistas descobriram que cinco desses 54 pacientes responderam a comandos para imaginarem estar jogando tênis ou andando por suas casas. Quatro desses cinco pacientes tinham sido classificados como vegetativos, mas quando os clínicos repetiram o teste depois do estudo com fMRI, eles encontraram evidências de que dois desses quatro deveriam ter sido classificados como minimamente conscientes.

Um dos pacientes que responderam, um homem de 22 anos que havia sido diagnosticado como vegetativo por cinco anos depois que um acidente de trânsito o deixou com um traumatismo cerebral, foi selecionado para mais estudos.

Como é difícil, se não impossível, determinar se alguém está pensando ‘sim’ ou ‘não’, os pesquisadores pediram ao paciente para imaginar que estava jogando tênis quando quisesse responder sim, e imaginar que estava andando pela casa quando a resposta era não. Visualizar essas duas atividades estimula partes diferentes do cérebro que são facilmente distinguíveis usando fMRI.

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Eles perguntaram ao paciente uma série de questões simples do tipo sim ou não sobre sua história pessoal, tais como “o nome do seu pai é Alexander?”. O paciente respondia cinco de seis questões corretamente. Nenhuma atividade cerebral foi observada como resposta à sexta questão.

Os resultados sugerem que a ressonância magnética funcional poderia ser útil para diagnosticar pacientes que não respondem ao teste tradicional, diz Owen. “Há coisas que simplesmente não se manifestarão no comportamento externo”, diz Owen. “Este método pode nos dizer quais pacientes estão conscientes, e pode nos dizer do que eles são capazes”.

Para Naccache, é a capacidade do paciente de responder usando o código sugerido por Owen e sua equipe que indica que ele está verdadeiramente consciente. “Quando você está consciente, tem a capacidade de usar um código arbitrário para se comunicar com alguém”, diz ele.

Parashkev Nachev, um neurocientista do University College de Londres que não participou do estudo, pede cautela para que os resultados não sejam interpretados longe demais.

O paciente apenas respondeu uma série de perguntas muito básicas, nota Nachev, e os resultados em sua perspectiva não necessariamente sugerem que o paciente esteja completamente consciente ou que tenha potencial de se recuperar. “Não há dúvida de que isso merece mais pesquisa”, diz ele, “mas não vejo por que usar como uma ferramenta clínica neste estágio”.

O próximo passo de Owen e seus colegas é perguntar ao paciente uma série de questões com respostas inverificáveis. Por exemplo, a técnica poderia ser usada para perguntar se eles sentem dor, uma questão que frequentemente perturba membros da família e equipes de hospital. Mas deveriam perguntar a um paciente em estado vegetativo se deseja viver ou morrer?

“Eu acho que há um problema enorme nisso”, diz Owen. “Só porque um paciente é capaz de responder com ‘sim’ ou ‘não’, não significa que ele tenha o nível necessário de competência para responder perguntas difíceis e eticamente desafiadoras sobre seu destino”.

* Nota: As informações e sugestões contidas neste artigo têm caráter meramente informativo. Elas não substituem o aconselhamento e acompanhamentos de médicos, nutricionistas, psicólogos, profissionais de educação física e outros especialistas.

Traduzido e Adaptado pela Equipe da Revista Saber Viver
Fonte: Nature
Autor: Heidi Ledford