“O importante não é o que se dá, mas o amor com que se dá”. A frase, de Madre Teresa de Calcutá, revela bem o sentimento de pessoas que decidem dedicar um pouco do seu tempo, um pedacinho de sua vida, a se doar.

Essa é a essência do trabalho voluntário, como o que Maria Cristina Alfano Casarri realiza há 14 anos. “Parece um bichinho que cresce por dentro e você quer dar mais e mais. É um amor, um carinho que não tem fim”. Assim ela descreve a paixão que a invade logo que entra no Hospital Pérola Byington, toda segunda-feira. “Às vezes a gente está cheia de problemas, mas quando coloco o pé no hospital, esqueço de tudo”.

No Pérola, Maria Cristina ajuda a servir o lanche em alguns setores: café, chá, biscoitos… Depois, quando chega na quimioterapia, é hora de levar não apenas alimento ao corpo, mas também à alma. Para distrair as mulheres que passam muitas vezes longas horas no local em tratamento, ela realiza, junto com outros voluntários, rodadas de bingo. “O prêmio é um brinde, coisa mínima”, avisa, reforçando a frase de Madre Teresa de que o importante realmente não é o que se dá. Com a brincadeira, as pacientes se divertem, ficam animadas e o tempo passa mais rápido e leve.

Ela faz questão de recordar sua inspiração para trabalhar como voluntária: “Lembro, quando eu era criança, de ver na TV a dona Carmem Prudente (que foi voluntária no combate ao câncer em São Paulo e ficou conhecida por sua atuação na direção da Associação Paulista de Combate ao Câncer). Ela de roupa cor de rosa, flor na lapela, com aquela paixão. Eu adorava e queria trabalhar com doentes”, recorda. “Quando os filhos cresceram e estavam encaminhados, pensei: ‘é a minha vez’”.

Para Maria Cristina, trabalho voluntário é dar um pouco de você para o outro, doar essa força, estender a mão. “Eu amo o que faço. Você sente o calor das pessoas: os funcionários, as pacientes, todos que vão procurar ajuda. Um dá a mão para o outro e formamos uma corrente”.

Essa corrente se materializa também nos trançados de fios e linhas que Patricia Upton leva à sala de quimioterapia do Pérola Byington. Junto com outras mulheres do grupo 1000 fios a 1000 ajuda a garantir alegria e distração às mulheres durante o tratamento, com ensinamentos e materiais para fazer gorros de crochê e tricô. “Iniciamos como experiência no final de 2015 e em 2016 começamos para valer”, recorda. “No início era uma vez por mês, em determinado momento conseguimos uma vez a cada 15 dias, até dois meses atrás íamos uma vez por semana e agora estamos lá duas vezes por semana”. Patricia conta que o sonho é ter pessoal e material para ir todo dia.

As pacientes e acompanhantes que já sabem fazer os gorros, podem pegar gratuitamente o material. As que precisam de algumas dicas, recebem aulas e ali mesmo começam a trabalhar. E elas também ganham os gorros. “Tem dias que estou meio desanimada e quando chego lá é uma delícia”. Patricia conta que o envolvimento é geral: “Teve uma senhora com a filha internada que subia, pegava lã e na semana seguinte trazia dez gorros para doar. Tem mãe de funcionário que ajuda. Há uma senhora de 90 anos que vai sozinha, de ônibus: ela adora ensinar”, explica. “Muitas querem aprender e outras, só conversar. Essa troca é muito rica”.

O hospital é um dos parceiros do Instituto Vencer o Câncer na realização de ações voluntárias. “Essa parceria é muito benéfica. A gente sempre prima pela excelência desses programas”, destaca o diretor geral do Pérola Byington, Luiz Henrique Gebrim. Ele acredita que a atuação dos voluntários fortalece o paciente que está fragilizado e precisa desse suporte e por isso essas ações devem ser multiplicadas pelo país. “Juntamente com o apoio da família, faz com que o paciente se recupere mais rápido, aumenta a adesão ao tratamento e evita o que a gente sempre tem preocupação: a depressão. É bom ter pessoas torcendo pelo paciente”. O médico lembra que a tristeza prolongada dificulta o reestabelecimento.

O diretor afirma que as ações voluntárias ajudam a dar suporte emocional – e algumas vezes até material na infraestrutura. “As parcerias com a sociedade civil, ONGs que visam o bem do paciente, são sempre bem-vindas e nos ajudam de várias maneiras, no resgate da autoestima, entretenimento, auxiliando no ensino de uma atividade e com o relacionamento humano”, afirma Gebrim. “Esse programa de humanização é um reconhecimento de que o hospital tem qualidade e boa qualificação. Porque o voluntário não vai querer trabalhar em um lugar que não o valoriza. Temos muitos casos de ex-pacientes que são voluntários. É uma troca positiva de energia”.

Psicólogo da área oncológica e hematológica da Beneficência Portuguesa de São Paulo, Caio Henrique Vianna Baptista chama atenção ao fato do voluntário ter suma importância dentro do hospital. “Quando falamos de voluntariado, falamos de motivações pessoais e o que os voluntários podem trazer de benefício para pacientes e familiares que estão passando, muitas vezes, por questões bem complicadas”.

Para Baptista, o voluntário pode ajudar com motivação, incentivar com histórias de vida de superação, fazer papeis de contadores de histórias, ensinar atividades e até atuar como amigo, auxiliando tanto fisicamente quanto emocionalmente. “A atuação, quanto bem conduzida pela equipe de saúde, pode ser muito benéfica”.

Se o voluntariado faz bem para quem recebe o auxílio, o mesmo acontece com quem pratica essa doação amorosa. “Trabalhar com voluntariado gera satisfação. Fizemos uma pesquisa com nossos voluntários e 98% saem das ações satisfeitos com eles mesmos”, afirma Soraya Araújo, diretora de responsabilidade social da Merck. Ela acredita que as ações voluntárias são importantes para os colaboradores, melhoram a autoestima, ajudam a criar empatia e possibilitam uma importante troca entre voluntário e atendido.

Por isso, a empresa estimula o voluntariado. “Acreditamos que isto melhora o desempenho de nossos colaboradores. Eles se sentem satisfeitos em trabalhar em uma empresa que contribui para a sociedade. Faz com que eles se engajem em causas que sem o estímulo do voluntariado na empresa talvez não participassem”. O resultado pode ser constatado em números: aproximadamente 400 voluntários envolvidos nas 37 ações da empresa. “São aproximadamente 30% do nosso quadro funcional envolvido em ações voluntárias”.

Uma dessas ações contou com a parceria do Instituto Vencer o Câncer (IVOC): uma iniciativa comunitária realizada em dezembro na Escola Municipal Vitor Meireles, no bairro de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Os voluntários participaram de serviços de saúde, artes e cidadania oferecidos gratuitamente à comunidade. “Levamos vacinação de HPV e febre amarela às meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos, medida essencial para a prevenção de alguns tipos de câncer, entre eles o do colo do útero”, explica Rita Domingues, diretora do IVOC. A vacinação teve apoio também da Secretaria Municipal da Saúde do Rio de Janeiro.

  • Siga a Revista Saber Viver Mais no Instagram aqui.
  • Curta a Revista Saber Viver Mais no Facebook aqui.

Fonte:Vencer o Câncer Org.