Por: Alexandre Cardoso

Se você é antenado em “tendências” já deve ter ouvido falar no método Marie Kondo. Pra quem não conhece, o método da guru japonesa Marie Kondo, prega analisar suas coisas uma por uma, jogar fora tudo o que “não dá alegria” e arrumar minuciosamente o que sobrar, basicamente é isso.

Segundo Marie Kondo fazendo essa ‘arrumação’, você poderá melhorar o bem-estar por meio da forma como conseguem lidar com seus bens materiais e com a organização do ambiente.

Mas a grande pergunta é se isso funciona mesmo? será que essa prática realmente tem o poder de colocar nossa cabeça em ordem?

Álvaro Machado Dias, professor de neurociências da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), realmente existe uma relação entre o ambiente e nosso estado mental. Porém ele saliente que nem sempre as modas de arrumação são benéficas para todas as pessoas.

“Jogar fora as coisas da sua casa é um papo burguês, papo de país de primeiro mundo, no Brasil não faz nenhum sentido. Não é nossa pegada ser tão acumulador quanto o americano”, diz ele.

Realmente não é para todos

Existe uma série de pesquisas que apontam para uma correlação entre o estado ambiental e o estado mental. Um desses estudos realizados na Universidade do Sul da Califórnia mostrou que as pessoas entrevistadas que descreviam a casa como “amontoada” (de objetos), também desenvolviam mais chance de se sentirem deprimidos.

Machado Dias afirma que há um núcleo de neurônios chamados “gânglios da base” que são muito ligados ao comportamento de organização. “Maior atividade nos gânglios da base favorece comportamentos pró-organizacionais, assim como comportamento obsessivo compulsivo”, diz.

“Por outro lado, pessoas com menor atividades nessa área e mais associações colaterais (ligações entre áreas do cérebro) normalmente têm mais dificuldade de organização, de realização de um plano pré-determinado e também mais criatividade.” complementou o professor

Machado Dias, afirma que há uma influência mútua entre a organização do ambiente e o estado mental e seguir dicas como as de Marie Kondo ou modas como o “minimalismo” podem de fato ser benéficas – mas não necessariamente para todo mundo. “São modas que beneficiam uma parte grande da população que é caracterizada por excesso de bagunça mental e tem baixo nível motivacional”, diz ele.

Realidade brasileira

A verdade que não é de hoje que modas de arrumação são importadas para o Brasil. Nos anos 90 predominou o feng-shui, que consiste em um sistema de arrumação chinês baseado em energias.

Nos anos 2000, foi a “Cromoterapia”, que começou nos EUA e é baseada na ideia de que as cores do ambiente influenciam nosso estado de espírito.

Agora a febre do momento é o método Marie Kondo que se baseia em uma “desacumulação”. O que traz alegria fica e o que não traz vai embora, ser doado, reciclado ou jogado fora.

Como explicamos acima, essa realidade tem mais haver com a cultura americana, pois os Estados Unidos é um país rico, e por lá se você precisar você compra e não precisar joga fora! Nem sempre é o caso no Brasil, onde tudo se é mais caro e nem sempre tem se a facilidade em adquirir as coisas.

Para Machado Dias, o principio usado é mal aplicado na forma como é apresentado.“Ela aplica em jogar fora as coisas do armário. Para mim isso é uma coisa muito pequena e eu diria até que fútil.”

“Como filosofia, essa lógica (da alegria) poderia ir muito mais longe, e poderia ser uma própria lógica de racionalização do consumismo, afinal de contas, qual a vantagem de comprar algo que no futuro não vai te dar alegria?”

“Boa parte das pessoas com as quais ela dialoga compram para ter prazer momentâneo. Comprar é um ato catártico e de caráter compensatório que se encerra em si mesmo.”

“Então, imagine que aplicando o princípio do que te dá alegria você vai olhar para o seu ato de comprar imaginando que daqui a pouco você vai jogar fora, porque você não ama aquilo. Essa ideia leva a um esvaziamento, no sentido profundo, do comprar”, afirma o professor.

Depois de conhecer o trabalho de Marie Kondo mais afundo, ficou intrigado sobre por que ela não teve essa abordagem.

“Depois eu entendi que é porque ela não está nem aí com isso, ela na verdade não é uma cientista social, não está muito preocupada em pensar o mundo”, diz ele. “Na verdade ela deve estar achando fantástico que deu tão certo falar coisas tão óbvias.”