Imagine um conflito onde não há tanques avançando sobre fronteiras, nem mísseis cruzando os céus. Nada de soldados em trincheiras ou explosões que abalam cidades. Em vez disso, os ataques partem de salas escuras repletas de servidores, onde linhas de código substituem balas e algoritmos assumem o papel de generais. Essa é a previsão de Bill Gates, fundador da Microsoft, sobre como poderá ser a próxima grande guerra global.
Em suas mais recentes entrevistas e publicações, Gates alerta: nas próximas duas décadas, o mundo poderá testemunhar uma guerra diferente de tudo o que já se viu. Os protagonistas não serão humanos com fardas, mas sistemas automatizados de inteligência artificial, capazes de lançar ataques cibernéticos devastadores em questão de segundos.
A IA, segundo Gates, evolui tão rapidamente que pode aprender, se adaptar e contra-atacar antes mesmo que alguém perceba que foi atacado. Um único algoritmo malicioso seria suficiente para paralisar redes elétricas, sistemas financeiros ou hospitais inteiros — tudo isso sem disparar uma única arma.
Mas ele não está sozinho nesse alerta. Elon Musk, outro gigante da tecnologia, já comparou a corrida pela supremacia em IA à corrida armamentista nuclear do século passado. Para Musk, o risco não está apenas na IA em si, mas na busca desenfreada por dominá-la antes dos outros países. Em sua visão, a Terceira Guerra Mundial pode não começar com tiros, mas sim com linhas de código lançadas no silêncio da madrugada.
Ambos os bilionários convergem em um ponto crítico: a falta de regulamentação global. Gates propõe a criação de uma entidade internacional, nos moldes da Agência Internacional de Energia Atômica, mas voltada exclusivamente para monitorar e regulamentar o uso da inteligência artificial. Já Musk insiste que a única forma de evitar um desastre digital é por meio da cooperação internacional.
Os riscos não são mais hipotéticos. Em 2017, o vírus NotPetya, atribuído a hackers ligados ao governo russo, causou mais de US$ 10 bilhões em prejuízos ao atacar empresas e governos em todo o mundo. E isso foi sem inteligência artificial envolvida. Agora, com IA, ataques desse tipo se tornariam ainda mais sofisticados, autônomos e praticamente indetectáveis.
Imagine, por exemplo, um sistema de IA criado para invadir redes elétricas. Ele poderia identificar falhas em tempo real, desativar usinas e provocar apagões em larga escala — afetando hospitais, sistemas de transporte, água e comunicações. Um ataque assim, embora silencioso e invisível, teria o mesmo impacto de um bombardeio em massa.
Apesar disso, Gates reforça que a IA não é o inimigo — pelo contrário, ela pode ser uma poderosa aliada. Pode reforçar defesas, prever ameaças e proteger sistemas vitais. A chave está em como será usada. Por isso, ele defende ações urgentes para estabelecer regras éticas e de segurança no desenvolvimento da tecnologia.
Enquanto isso, os ataques continuam. Um relatório da Microsoft divulgado em 2022 mostrou que 40% dos ataques cibernéticos já envolviam automação avançada. E esse número só tende a crescer à medida que ferramentas de IA se tornam mais acessíveis — inclusive para criminosos e grupos extremistas.
A questão que fica é: ainda há tempo de evitar uma guerra invisível? Gates e Musk acreditam que sim, mas alertam que o relógio está correndo. Se a humanidade falhar em controlar essa tecnologia agora, o campo de batalha do futuro será digital, invisível e potencialmente irreversível.