Na despedida de Chico Anysio, há 10 anos, perdemos um jeito de sorrir. Jamais recuperamos. Agora, com a morte de Jô Soares, assassinaram de vez a nossa gargalhada.
Jô Soares não era somente engraçado, também nos fazia pensar.
Você ria de doer a barriga e queimar o cérebro. Participava de uma catarse estranha, da iluminação de uma verdade velada do próprio comportamento. Ficava estremecido da descoberta, já querendo pedir desculpa pelas suas atitudes. Ele efetuava flagrantes de nossas mentiras educadas. Produzia arrependimentos instantâneos.
Foi uma raridade na cena televisiva, teatral e literária brasileira: um intelectual humorista, um pensador debochado. Criava personagens para combater preconceitos. Quem não se lembra do Capitão Gay, do Reizinho, do Zé da Galera?
Escritor de entretenimento saboroso, elaborava charadas e enigmas a partir de tramas policiais com figuras históricas, misturando ficção e realidade, como em O Homem que matou Getúlio Vargas.
Jô Soares representava uma orquestra inteira: era um showman, um aforista, um sátiro, um Oscar Wilde de óculos de aros coloridos, a televisão ligada nas nossas madrugadas. Queríamos dormir para trabalhar, e ele não nos deixava com a sua sagacidade. Permanecíamos acordados até tarde por culpa dele. Acumulávamos insônias por mérito dele, hipnotizador de multidões.
Durante décadas, conduziu o melhor programa de entrevistas. No seu talk show, demolia qualquer embuste com o seu sarcasmo ou reconhecia todo puro talento com a sua generosidade.
Possuía um raciocínio impressionante, veloz, surpreendente, assombroso de tanta lucidez. Seu pensamento corria com câmbio automático enquanto a maioria trocava suas ideias com marcha manual.
Só ele podia engolir a música com a mão. Só ele podia arrancar uma confissão com os olhos carentes. Só ele!
Tendo ao fundo a cumplicidade do seu Sexteto, transformava memória em jazz, dançando datas e acontecimentos remotos com as últimas notícias.
Improvisava porque tinha cultura, uma enciclopédia de gravata borboleta.
Dominava cinco idiomas: português, inglês, francês, italiano e espanhol, além de conhecimentos de alemão. Mas, acima de tudo, falava a língua da rua, traduzindo a nossa indignação com causos e anedotas.
Ele, que nasceu em janeiro de 1938, era sempre o nosso Ano-Novo. Perdemos a graça do Réveillon, nosso brinde de caneca, nossa guinada de vida. Quem nos inspirava a transformar dificuldades em aprendizado. Perdemos o nosso exemplo de alegria. Perdemos a nossa festa da inteligência.
AAAAHHHH…
Viva o Gordo, nossa alma transbordando.
Leia a minha coluna no jornal Zero Hora, GZH, 5/8/2022:
https://gauchazh.clicrbs.com.br/…/viva-o-gordo…
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