O que acontece em nosso cérebro quando algo desperta muito interesse? Será que as pessoas curiosas são mais inteligentes?
Um estudo publicado na revista Neuron , da Cell Press, explica que, além de ser muito benéfica para a autorrealização, a curiosidade é uma característica associada à boa memória e boa capacidade de aprendizado.
No entanto, o estudo da associação entre inteligência e curiosidade apresenta um problema. Enquanto o primeiro pode ser “medido” pelo QI conhecido, o segundo é um traço de personalidade. Como podemos então ligar esses dois conceitos?
A primeira pergunta que temos que fazer para saber como a curiosidade influencia a inteligência é saber o que é exatamente isso que chamamos de inteligência. No entanto, a resposta não é nada simples. Pelo contrário. É um conceito muito difícil de definir, dada sua quantidade de interpretações e funções e áreas que engloba.
A maioria dos especialistas concorda que a inteligência é uma capacidade mental que envolve diferentes habilidades. Entre elas, a razão, dá sentido à realidade, planeja, resolve problemas , memoriza, pensa abstratamente, compreende ou gera novas informações a partir de uma nova.
Então, surge outra questão: Se aprimorarmos algumas das habilidades anteriores, é possível aumentar nossa inteligência? Esta é uma das questões abordadas pelo estudo ao qual nos referimos e que explicamos a seguir.
Pessoas curiosas retêm melhor as informações ( Gruber , 2014). Ou seja, é mais fácil memorizar certos dados se o tema nos interessar do que se for indiferente a nós. Por que isso acontece? Porque a curiosidade está muito ligada à motivação. Se nos sentimos motivados, nosso poder de memorização se multiplica. Vamos dar um exemplo para entender melhor.
Uma pessoa que gosta de animais terá mais facilidade guardar na mente o nome da espécie exata do primata da qual somos evolução do que alguém cuja sensibilidade ao meio ambiente é nula.
Nas palavras de Gruber, “a curiosidade pode colocar o cérebro em um estado que lhe permita aprender e reter qualquer tipo de informação, como um vórtex que absorve o que está motivado para aprender, e também tudo o que o cerca “.
Continuando com o exemplo anterior, vemos que a motivação do menino em conhecer o mundo animal é muito alta. Ou seja, seu interesse o incentiva a querer saber mais sobre esse assunto, porque ele gosta. Essa motivação é intrínseca e é outro dos fatores explicativos da curiosidade.
A motivação intrínseca é a que nasce do interior da pessoa, a que nos impulsiona a realizar ações pela mera satisfação de fazê-las. Ela nos permite sentir autorrealizados e aumentar nosso crescimento pessoal. Pelo contrário, a extrínseca não precisa de nenhum incentivo externo (por exemplo, o dinheiro) nem está ligada à obtenção de algum resultado (ficar em primeiro).
O exemplo mais claro deste tipo de motivação intrínseca são os hobbies: vamos andar de bicicleta porque nos sentimos bem e por que adoramos pedalar ao ar livre. Algo parecido acontece com a curiosidade: buscamos por gosto, porque nos produz satisfação conhecer algo no qual estamos interessados. Por puro prazer.
“Inteligência é a capacidade de se adaptar à mudança”
Stephen Hawking
A equipe de pesquisadores da Neuron descobriu que, ao estimular a curiosidade e despertar essa forte motivação intrínseca, mais atividade é gerada no circuito cerebral relacionada à recompensa em pessoas curiosas. Especificamente, aumenta a atividade em três regiões-chave do córtex cerebral, intimamente ligadas à aprendizagem, à memória e à repetição de comportamentos que geram prazer.
-Núcleo caudado à esquerda : muito envolvido com a aprendizagem e a memória , bem como com a aquisição de novos conhecimentos e emoções positivas.
-Núcleo accumbens: foi estudada sua relação com os vícios e circuito de recompensa, principalmente com relação a reforçadores naturais: alimentação, sexo e videogames.
Hipocampo: é essencial para a formação de novas memórias.
“A curiosidade recruta o sistema de recompensa, e as interações entre o sistema de recompensa e o hipocampo parecem colocar o cérebro em um estado no qual é mais provável que aprenda e retenha informação”.
– Ranganath –
As descobertas deste grupo de cientistas e especialistas abrem as portas para novas pesquisas sobre possíveis maneiras de melhorar o aprendizado. Além disso, não somente em pessoas curiosas que se encontram perfeitamente saudáveis, como também naquelas que têm algum tipo de distúrbio ou transtorno neurológico.
A nível prático, estes resultados destacam a importância de que os professores estimulem a curiosidade dos alunos. De nada serve passar horas e horas estudando em frente a papéis pelos quais o aluno não sente o mínimo interesse.
Assim, o futuro passa por desenvolver estas novas estratégias educativas. O aprendizado poderia ser melhorado se estes professores atraíssem a curiosidade dos estudantes. O mesmo acontece nos postos de trabalho.
Por tudo isso, considerando a inteligência como a capacidade de relacionar conhecimentos para resolver uma determinada situação, melhorar o aprendizado ou a memória, incentivar e potencializar a curiosidade pode contribuir para aumentá-la.
Texto originalmente publicado no Lamente es Maravillosa, livremente traduzido e adaptado pela equipe da Revista Saber Viver Mais
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